....."Não sou de muitas palavras, Nunca fui! Existe em mim uma necessidade de silêncio, Premente, E limito-me a dizer o insondável, O extremamente necessário, O urgente ... o aflitivo, Não que o seja da minha parte, Mas sim dos outros, Que com olhos postos aguardam, Expectantes, Umas quaisquer palavras, Numa ânsia desmedida, De as conhecer, De as beber, E assim pronuncio-as, Finalmente, Mas palavras são apenas isso, Palavras! E mal são ditas perdem o significado, Que tinham antes de proferidas, Como se de uma magia qualquer se tratasse, E o poder só existisse enquanto fechado, Secreto e sacramentado, Depois de ditas, São banais, Vulgares, Iguais, Palavras, São armas de arremesso, Doce afago no coração, São punhais, terrível traição, São desculpas esfarrapadas, Tristes notícias nos dão, Palavras, São tantas vezes enganos, Tanto faz de conta, Tanta falsa emoção, Deixámos há muito de comunicar, Construímos apenas castelos, Mas no lugar das cartas, Fizemo-lo de palavras, Que do mesmo modo tombam, Perante a realidade de uma acção, Palavras deixaram de ser ditas com o coração, Dizemo-las convictos de nada dizer, Sabendo que caminhamos sem direcção, Palavras são escudos de bem parecer, Ocas de significado sem vontade ou lição, E assim as palavras deixaram de ser, O que diferenciava um ser de outro ser, Palavras, São apenas palavras, Desprovidas de valor, Sem significado, Morreram, Solitárias, Na tinta, Apagada e envelhecida, Dos tratados, E condados, Num outro tempo, Noutro lugar, No passado, Adormecidas, Diz-me tudo o que quiseres... Mas não mo digas por palavras...".....
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