18 julho, 2010

....."Água, sal e vontade — a vida! Azul — a cor do céu e da inocência. Um lenço a colorir a despedida, Da galera da ausência... Mar tenebroso! Mar fechado e rugoso, Sobre um casto jardim adormecido! Mar de medusas que ninguém semeia, Criadas com mistério e com areia, Perfeitas de beleza e de sentido! Vem a sede da terra e não se acalma! Vem a força do mundo e não te doma! Impenitente e funda, a tua alma, Guarda-se no cristal duma redoma. Guarda-se purificada em leve espuma, Renda da sua túnica de linho. Guarda-se aberta em sol, sagrada em bruma, Sem amor, sem ternura e sem caminho. O navio do sonho foi ao fundo, E o capitão, despido, jaz ao leme, Branco nos ossos descarnados; Uma alga no peito, a flor do mundo, Uma fibra de amor que vive e treme, De ouvir segredos vãos, petrificados. Uma ilusão enfuna e enxuga a vela, Uma desilusão a rasga e molha; Morta a magia que pintava a tela, O mesmo olhar de há pouco já não olha. Na órbita vazia um cego ouriço, Pica o silêncio leve que perpassa... Pica o novo feitiço, Que nasce do final de uma desgraça. Mas nem corais, nem polvos, nem quimeras, Sobem à tona das marés... O navio encalhado e as suas eras, Lá permanecem a milhentos pés. Soterrados em verde, negro e vago, Nenhum sol os aquece. Habitantes do lago, Do esquecimento, só a sombra os tece... Ela és tu, anónimo oceano, Coração ciumento e namorado! Ela que és tu, arfar viril e plano, Largo como um abraço descuidado! Tu, mar fechado, aberto e descoberto, Com bússolas e gritos de gajeiro! Tu, mar salgado, lírico, coberto, De lágrimas, iodo e nevoeiro!...".....

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