10 outubro, 2020

....."Nos fins do outono uma rapariga deitou fogo 
a um trigal. O outono 
fora muito seco; o campo 
ardeu como palha. 
Depois não sobrou nada. 
Se o atravessávamos, não víamos nada. 
Nada havia para colher, para cheirar. 
Os cavalos não compreendem – 
Onde está o campo, parecem dizer. 
Como tu ou eu a perguntar onde está a nossa casa. 
Ninguém sabe responder-lhes. 
Não sobra nada; 
resta-nos esperar, a bem do lavrador, 
que o seguro pague. 
É como perder um ano de vida. 
Em que perderias um ano da tua vida? 
Mais tarde regressas ao velho lugar – 
só restam cinzas: negrume e vazio. 
Pensas: como pude viver aqui? 
Mas na altura era diferente, 
mesmo no último verão. A terra agia 
como se nada de mal pudesse acontecer-lhe. 
Um único fósforo foi quanto bastou. 
Mas no momento certo – teve de ser no momento 
certo. 
O campo crestado, seco – 
a morte já a postos por assim dizer...".....

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